A paragem e ausência do desporto

A paragem e ausência do desporto

por José Estêvão Cruz

Estes dias que estamos a enfrentar exigem de nós o máximo da nossa resistência à adversidade e têm mostrado que, a forma voluntária como os portugueses se confinou nas suas casas para permitir as autoridades tomarem as medidas necessárias para combater a Covid-2, é um sinal de responsabilidade.

Ninguém tem na sua vida a experiência de controlar a própria vontade de se auto motivar para ficar dias e dias seguidos de porta fechada para a rua, de dificuldades em adquirir alimentos, conviver com os amigos, praticar desporto e tudo o mais que se faz ao ar livre. Os artigos nos jornais, na televisão e os debates com especialistas têm ajudado de alguma forma a entender esta necessidade, que nos permite poupar a ação dos serviços de saúde, reservando-a para os casos mais graves e diminuindo a capacidade do novo coronavirus para nos contaminar.

Dentro das medidas que foi necessário tomar, a paragem do desporto, não apenas como prática saudável, mas em transmissões quer em televisão, quer em plataforma digital, de luz apagada desde a última sexta-feira, cria também em todos os amantes do desporto de sofá um vazio que vai ser cada vez mais difícil de suportar.

Ainda não passou uma semana que o Mundo oferecia aos consumidores de espetáculos desportivos uma vastidão de propostas à escala mundial, 24 horas por dia, 365 dias por ano. Torneios de futebol, basquetebol, ténis, automobilismo, motas, patinagem artística, um rol a que o leitor não terá dificuldade de acrescentar muitas mais, escalonadas por idades e competências. Sempre que tínhamos um bocadinho livre, assentávamos arraiais no cadeirão, com ou sem a cerveja na frente.

Esse quadro mudou e não vai regressar tão cedo. E quando regressar, demorará tempo a que volte ao esplendor dos dias de hoje e isso vai criar em todos nós a inquietação do preenchimento do tempo vazio ou da substituição dos nossos medos e inquietações. Para já as 24 sobre 24 horas estão a ser preenchidas pela presença angustiante dos relatos da expansão da Covid-19. Está por toda a parte. No Brasil de Bolsonaro, na América Trump, ou na Inglaterra de Boris, que a princípio desvalorizaram a ameaça, ou na Espanha, aqui ao lado, e, ainda, agravando as nossas preocupações, nos motores europeus da França, Alemanha e na assustadora realidade italiana.

Os milhões de euros que engordaram clubes, agentes e dirigentes desportivos, após esta paragem forçada, as bandeiras, cascóis e camisolas vendidas, manterão a sua prioridade nos nossos modelos de vida e de futuro, é o que se perguntas. Para já, não foram apenas as competições que pararam. Foi o lucro baseado nas receitas do dia a dia quem saiu de cena, sem se saber quando vai regressar.

Será que esta repentina paragem dos calendários desportivos provocará uma reflexão profunda na sociedade, abrandará o carrossel de estrelas de primeira grandeza ou que o modelo não aguenta e explodirá sem se saber ainda bem como, nem para onde?

Ou, pelo contrário, como em épocas de crises anteriores, as competições prosseguem para ajudar a manter um cenário de ócio sob controlo, a normalidade aparente entre a população,

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