Um dos pontos altos desta inauguração foi a afirmação por parte do presidente da câmara municipal, Álvaro Araújo, de que é intenção do seu executivo fazer reverter o edifício, entretanto cedido a privados e onde funciona um café, à posse do município.
Depois de dar uma palavra especial «ao nosso querido Professor Doutor Horta Correia», Álvaro Araújo destacou a importância da presença do reputado historiador, «no dia em que se está a fazer a restituição das armas neste edifício» dirigindo-lhe uma saudação especial.»
Álvaro Araújo
Depois de saudar os outros presentes, com destaque para Fernando Pessanha, orador anterior, e Nuno Rufino, autor da réplica do escudo de armas, afirmou: «Como já foi dito aqui, as armas reais colocadas no frontão deste edifício, descerradas com salvas de artilharia por parte do destacamento militar há 250 anos atrás, foram posteriormente removidas após a implantação da República».
E, sobre o prédio iniciático, historiou: «Também há uns anos atrás este edifício foi retirado da posse do município, neste momento o edifício não pertence ao município. Quando aqui chegámos ao município, este edifício servia de armazém, aqui tinham sacas de batatas, estavam colchões, num edifício com o simbolismo que ele tem, era assim que estava no momento em que cá chegámos».
Traçou, depois, um novo rumo: «Por isso, temos um grande objectivo, para além do que fizemos hoje que foi a recolocação das armas no frontal, recuperar também o edifício para as mãos do município, para que o possamos transformar, dar-lhe a dignidade que ele merece.
Disse que ali se podia ter um museu ou aquilo que «nós, os órgãos do município, a Câmara e a Assembleia Municipal assim entenderem. Agora, aquilo que é património municipal, diria mais, património nacional, não pode nunca, não poderia nunca, ter sido retirado das mãos do município. Por isso vamos restituir, é este um dos grandes objectivos também que temos em mãos, é restituir, voltar a ter a posse deste edifício para lhe dar a dignidade que ele merece».
Classificou como importante toda a resenha histórica feita por Fernando Pessanha, e pediu que se aproveitasse o dia «para refletir sobre a história e a cultura numa sociedade. Olhamos sempre para o passado, como disse o Fernando, para o que foi feito, para o que foi construído, para o que foi ensinado e passado de geração em geração. Só assim, como ele dizia, com um olhar crítico e espírito aguçado, poderemos construir um futuro sustentável, uma sociedade unida, responsável e forte».
Afirmou que vai procurar criar um momento para discussão, para juntar os historiadores, as várias correntes, as várias doutrinas que existem sobre a fundação de Vila Real de Santo António. Vai ser marcada uma data, brevemente, para que aqueles que entendem da matéria possam vir e esplanar as suas ideias, «para que possamos ter uma linha, uma única linha de pensamento, para que Vila Real de Santo António e a sua história não ande aqui em disputa de várias ideias, mas que tenhamos uma ideia consolidada e para isso vamos preparar esse momento importante para a discussão da nossa história».
«Vila Real de Santo António está de parabéns hoje, neste dia 6 de agosto de 2024, que faz, como sabemos, e recordo e volto a dizer, 250 anos do 6 de agosto de 1774, data em que este edifício foi inaugurado», concluiu.
Fernado Pessanha
Fernado Pessanha fez as honras ca casa na recepção às autoridades e convidados, onde se viram também representações da Capitania do Porto, GNR, PSP, Bombeiros, Protecção Civil, Real Associação do Reino do Algarve e membros dos diversos órgãos autárquicos do município.
O historiador começou por afirmar que «Na realidade, poucas são as terras que se podem orgulhar de ter uma data de nascimento. A nossa terra tem o privilégio de até ter várias datas de nascimento».
E constinuou «Realmente, os primórdios dos primórdios se remontam à antiga Vila de Arnilha, que teve o seu nascimento formal em dia 8 de Fevereiro de 1513, como atesta à Carta de Privilégio do Rei Dom Manuel, dia 8 de Fevereiro».
Destacou que, com a Guerra Fantástica de 1762, «o Estado Português volta a compreender a importância geoestratégica da Foz do Guadiana e nela instala um sistema defensivo que, até já em período de paz, protegeu a fauna das comunidades pescatórias derramadas pelos areais de Santo António de Arnilha e pelos mares de Monte Gordo»
E, após este enquadramento histórico primordial, destacou: «Foi, portanto, face à problemática do contrabando e da evasão fiscal praticada pelas comunidades pescatóricas que o nosso Marquês de Pombal, ao abrigo do designado Plano de Restauração do Reino do Algarve, manda reconstruir a Vila de Santo António de Arnilha, sobre a designação de Nova Vila de Santo António de Arnilha».
Assim, continua Pessanha, «Efetivamente, em 16 de Março de 1774 é nomeado o primeiro governador da Nova Vila, Francisco Mendonça Peçanha Mascarenhas, que já comandava o termo de Santo António de Arnilha, pelo menos desde 1766. No dia seguinte, no dia 17 de Março de 1774, é simbolicamente lançada a primeira pedra da Nova Vila de Santo António de Arnilha, numa sessão soleno onde estiveram presentes as autoridades da Câmara de Arnilha em toda a oficialidade e até o próprio juiz de fora da Praça de Castro Marim».
E lançou o paralelo histórico da comemoração dos 250 anos: «Finalmente, no dia 6 de Agosto, e hoje é o dia 6 de Agosto, no dia 6 de Agosto de 1774, dia em que foi lançada a primeira pedra da nova igreja e em que foram lançadas à água as embarcações concluídas aqui nos taleiros locais, portanto, a norte da malha urbana de Vila Real de Santo António, foi inaugurado o edifício da alfândega e oficialmente descerradas as armas reais portuguesas, simbolicamente colocadas, portanto, na frontaria do edifício que representa a afirmação política, militar e económica do Estado português face ao Estado espanhol. Em carta dirigida ao Governador Peçanha Mascarenhas, de 3 de Agosto de 1774, instruía aqui o Armador Mor do Reino do Algarve».
E, sobre o brasão reposto e inaugurado momentos antes, explicou:
«Instruía para que o Governador desse ordem ao Comandante Militar para, na nova Vila, trazer o destacamento militar com o maior número de tropa possível para que fossem dadas as três descargas de artilharia, quando fossem descerradas estas armas reais».
«Curiosamente, reparem, isto acontece em 1774», anotou Fernando Pessanha, salientando um novo paralelo e curiosidade histórica: «A última vez que a Foz do Guadiana assiste a salvas honoríficas de artilharia foi com a passagem do D. Sebastião pela Foz do Guadiana.»
Foi exatamente dois séculos antes, em 1574, quando o D. Sebastião faz a sua jornada pelo Alentejo e pelo Algarve e passa pela Foz do Guadiana, vem a Santo António de Arnilha, vai a Ayamonte e vai a Castro Marim.
Na opinião de Fernado Pessanha, «Estas armas reais, alegadamente destruídas pela citada população vilarealense, quando da implantação da República no 5 de Outubro de 1910.
O historiador destacou o empenho da arquiteta Perpétua Almeida e o acompanhamento do professor Dr. José Eduardo Horta Correia, na projecção da réplica das armas reais produzida pelo «talentoso escultor vilarelense Nuno Rufino, que se encontra entre nós».
Nuno Refino, escultor vilarealense
Filho de Vila Real de Santo António, Nuno, Nuno Miguel Dias Rufino, nasceu no dia 17 de Outubro de 1979. É licenciado em Artes Plásticas, Escultura, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e é pós-graduado em Museologia e Museografia pela Faculdade de Belas Artes da mesma universidade.
Os objetivos do novo escudo
A obra na frontaria do edifício de Alfândega, réplica, portanto, das armas reais de Dom José I, pretende restituir a dignidade simbólica de um edifício que reflete o plano de restauração do Reino do Algarve concebido por Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal, para o extremo Sotavento-Algarvio, nomeadamente para esta Foz do Guadiana.
Fernsndo Pessanha terminou o seu discuro alertando: «Neste dia histórico, para a nossa terra, em que são novamente descerradas as armas reais do edifício de Alfândega, importa refletir na importância da história e da cultura para a construção do sentido crítico da nossa sociedade e para a construção de futuros sustentáveis. E nós podemos perguntar-nos, é pertinente? É pertinente este cuidado com a nossa história? É pertinente este cuidado com o nosso património? Naturalmente que é pertinente. A história é o sangue que nos corre nas veias. Nós, seres humanos, somos constituídos pela matéria empírica que alberga a nossa existência.
«Nós somos feitos de história. Portanto, tendo em consideração que nós somos feitos de história, dificilmente conseguimos compreender de onde viemos, quem efetivamente somos, ou para onde vamos tirar ilações, se eu por vir, se não soubermos da nossa história, da nossa cultura e do nosso património. Portanto, a todos vocês, vilarealenses, a nossa profunda gratidão».
O Porto de Honra esteve a cargo de «O Coração da Cidade»