Ilhas de Barreira

Ilhas de Barreira

Ilhas de Barreira protegem Faro (Opinião em 20/06/2000)

O Aeroporto Internacional de Faro e a própria cidade encontram-se dependentes do sistema de ilhas de barreira da Ria Formosa e os erros humanos cometidos ao longo de gerações podem comprometer o futuro da cidade.

A cidade de Faro encontra-se protegida por um sistema lagunar de cinco ilhas e duas penínsulas arenosas, as quais dão corpo à periferia exterior da Ria Formosa. Desta forma, existe uma diferenciação do ambiente interno da ria.

Este sistema espraia-se por 8.400 km2, tendo em conta o nível médio da preia-mar equinocial e, de acordo com as especificações técnicas, apresenta profundidade média de dois metros e uma disposição muito irregular dos fundos, com dominância dos espraiados que interferem significativamente com a evolução temporal e a distribuição espacial do campo de correntes de maré.

No sistema de Ilhas de barreira da Ria Formosa existem duas grandes unidades, as praias, dominadas pelas ondas e as formações dunares, dominadas pelas marés. As ilhas exibem grande variabilidade morfológica no espaço e no tempo. Deste equilíbrio dinâmico resulta a resposta fácil e rápida às variações introduzidas na sua organização, nomeadamente as que resultam da ocupação humana, bem como à diversidade que caracteriza a evolução sazonal dos parâmetros climáticos.
O sistema lagunar é quase exclusivamente alimentado por água oceânica, cujo tempo de residência no interior da bacia de maré é escasso, porque a taxa de renovação da água é suficientemente elevada para se poder considerar que a totalidade é reciclada diariamente, pelo menos uma vez.

Existe uma grande ramificação de canais que predomina durante cerca de metade do ciclo de maré e permite que as areias provenientes das barras em actividade ou de depósitos por elas abandonados sejam profunda e profusamente injectados na laguna, revestindo-lhes o fundo de um tapete arenoso. Têm também sedimentos siltoargilosos de proveniência continental e a sua retenção no depende muito da densidade da vegetação e dos controlos hidrodinâmicos.

Eis a explicação científica para a delicadeza deste meio ambiente que envolve e caracteriza de forma tão profunda a cidade de Faro e a sua paisagem e relação com o mar, onde, devido às cargas da desmesurada ocupação humana se têm registado acontecimentos de grande preocupação, quando o mar irado rompe os cordões dunares e faz temer o pior, já que a cidade reside abaixo do nível do mar.
Uma quebra nestas ilhas coloca em causa a preservação do aeroporto internacional de Faro e, por consequência a principal infra-estrutura turística do Algarve e, porque não admiti-lo, da costa oeste de Huelva, para onde hoje, muitos dos voos transportam e recolhem passageiros.


O desequilíbrio da zona lagunar é um dado adquirido. A intervenção humana, nos anos recentes, foi de tal modo pesada que as consequências dos actos irreflectidos, das resistências à regularização e a defesa doentia de interesses instalados, terão contribuído para que ninguém saiba afirmar com precisão como vão as coisas acabar, já que como tudo começou parece saber-se que foi da subida do nível do mar no período que se seguiu ao Wurm ou glaciação.

Segundo umas teorias, as praias, como ambientes mais dinâmicos da superfície terrestre, estão em permanente movimento, modificando a morfologia de acordo com a actuação de quatro factores: nível e espectro energético da agitação marítima, taxa de subida do nível do mar, abastecimento das areias e forma da praia.

A relação entre estes factores constitui um equilíbrio dinâmico natural e, quando um dos factores muda, os outros ajustam-se, por forma a manter o equilíbrio. As ilhas, de acordo com esta hipótese, serão resultantes de cabeços de areia formados na plataforma continental que migraram para a costa, devido aos factores já enumerados.

Como tal migração é tanto mais rápida quanto menos inclinada for a plataforma, em Cacela-Velha e no Ancão, onde os declives da costa são mais suaves, as ilhas movimentaram-se tão “depressa” que a laguna nem se chegou a formar. Frente a Faro, onde a plataforma é mais inclinada, as coisas passaram-se de forma mais lenta, daí a ainda grande distância à costa. A velocidade de migração da Ilha de Faro, sendo de duas vezes e meia superior à das restantes, pelo que seria aquela que mais problemas iria levantar.

Segundo outros a origem destas ilhas é outra e as areias que as abastecem são provenientes das arribas localizadas entre o Ancão e os Olhos d’Água, dos sedimentos da plataforma continental adjacente e, em parte menos importante, pelas areias transportadas de Oriente pela deriva litoral, talvez mesmo do Rio Guadiana, e, ainda, por sedimentos arrastados directamente da parte continental, principalmente nos períodos mais chuvosos. Esta tese é sustentada, porém, por um número relativamente pequeno de amostras e que só a realização de mais trabalho no futuro permitirá um melhor conhecimento do sistema.


José E. Cruz

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