Cada vez que oiço falar em “Tavira capital da “dieta mediterrânica”, sinto urticária. Ideia criada por um “idiota” (homem que tem ideias), em promoção própria, tem servido de “vaziador” das algibeiras dos tavirenses, especialmente daqueles que nada lucram com o turismo e que, pelo contrário, ano após ano, pagam sem “bufar”, a carestia contínua do custo
de vida.
“Dieta Mediterrânica”, o que é este esbanjar de dinheiro para os indígenas locais, carecidos de tudo o que são necessidades básicas, como a saúde, habitação, o apoio social e a proteção da economia das pequenas empresas e do comércio miserável sustentado, para que foram relegados os comerciantes naturais, confrontados com as “tendas” asiáticas?
Talvez a resposta a tudo isto esteja, se o atento tavirense desfolhar o pograma (programma) da “X Feira da Dieta Mediterrânica”, largamente divulgado, e que teremos de gramar de 5 a 8 de Setembro.
Dieta Mediterrânica faz lembrar, evidentemente, gastronomia, por isso, seguindo o programa e convidado a viajar pelos sabores mediterrânicos dos restaurantes, localizados na «Praça da Convialidade» (?), com menus específicos ligados à gastronomia mediterrânica, confesso que
não encontrei o «milho com conquilhas», uma «caldeirada de peixe variado», uma panelada de repolho ou umas “orelhas de atum guisadas, etc.
Mas, chamou-me a atenção o “cardápio” da Escola Hoteleira e Turismo do Algarve, com os ricos pratos da “Dieta Mediterrânica” (?) que apresentou.
Eis alguns:
- Trutas de Alguidar com leite de Cabra Charniqueira
- Estufados de Ovelha Churra Algarvia com esmagão de Batata-doce e Churritas Algarvias.
- Salada de cavala crítica em concha de alface com tátaro de tomate.
- Papos de anjo de peixe, pera ou balsâmico de alfarroba.
- Açorda de tomata e espargos com corvina braseada e ar de lima.
- Do peixe à espinha: como usar uma dourada para 3 receitas.
- Empadão de grão com ragu de cogumelos.
- Tiborda Algarvia com manteiga de Azeite e Alfarroba, Feijão Branco e Presunto
- Crocant, Tomate Rosa, Ervas de Cheiro.
Arroz “tipo” de Polvo: + sustentável, económico e delicioso.
- Arroz Caldoso de Presunto com Figos Grelhados e Amêndoa.
- Polvo confitado com três texturas de batata-doce e azeitona desidratada.
Ora “porra” para esta dieta algarvia…
A baixa da cidade foi transformada num aglomerado de barracas, que mais parecem o acampamento das tropas francesas, antes da Batalha do Buçaco.
E aquela monstruosa estrutura montada na Praça da República (cujo aluguer deve ter custado uma pipa de dinheiro) só pode ser o fabuloso palanque de onde Napoleão irá falar às tropas invasoras, deste verão em Tavira.
Tão grandes festividades que devem custar milhares ou milhões de euros (contas que nunca serão apresentadas aos tavirenses) levou a que um daqueles idosos reformados de aposentação mínima, que se sentam no Jardim, me perguntasse:
— Sr. Fulano, quem paga todo este estendal?
— Respondi-lhe: – Você e eu. — Acto contínuo o homem jogou as mãos à cabeça e não teve coragem de me responderº
Mas, para que serve todo este arrazoado que teimamos em contestar, se esta Camara abre os braços aos turistas e veraneantes, oferecendo-lhes festas e festinhas, de borla e permite que diariamente no verão, milhares de espanhóis utilizem a nossa praia, estacionando os carros de borla, trazendo sombrinhas, cadeiras, lancheiras, sem nada consumirem ou pagarem, a não
ser o faustoso negócio dos barcos para a Ilha, que chegam a transportar o triplo da lotação permitida? A Polícia Marítima? Também vai à praia!…
A propósito do que referi antes, li hoje num jornal diário, que a Câmara de Setúbal começou a cobrar uma taxa turística de 2 euros por hospede que irá render 400 mil euros por ano, prática que já 26 municípios praticam. Porque não há de a Câmara de Tavira cobrar igualmente uma taxa turística aos hospedes da cidade, se lhes dá tantos divertimento e festas de borla? E,
igualmente, uma taxa de utilização turística a cada passageiro que utilize os barcos para a Ilha de Tavira. Quem quer gostos que os pague.
Ainda sobre o Festival da “Dieta Mediterrânica”, em si, no programa referido constata-se que são 218 os eventos produzidos, nos 4 dias, em tudo o que é recanto do centro da cidade, mas apenas no lado nobre da urbe. O lado de lá do rio, não tem direito a qualquer manifestação festiva.
Digam lá se isto não é descriminação urbana, facto que até, como estão as coisas no mundo, poderia dar uma “guerra-civil”, do lado sul da cidade, contra o norte da mesma, como aconteceu nos Estados Unidos.
É triste dizerem-se estas verdades. Mas, o facto é que a culpa deste viver tavirense se deve aos próprios tavirenses.
As novas eleições autárquicas estão à porta e os tavirenses devem pensar…
Sobre isto, um dia escreverei algo.
2.Set°.2024
Ofir Chagas | Historiador em Tavira.