Uma importante descoberta arqueológica sobre Arenilha

Uma importante descoberta arqueológica sobre Arenilha

Altar - Ermida - Arenilha

Para além de todas as fontes documentais identificadas nos últimos anos e que serviram de base de sustentação à publicação de vários artigos científicos sobre Santo António de Arenilha, agora é a vez de a alegada insignificância da terra (como durante anos nos quiseram fazer acreditar) ser contestada pela própria arqueologia.

De facto, uma das grandes dúvidas da História do sotavento algarvio acaba de ser esclarecida: a localização das pedras nobres da Ermida de Santo António, edificada na vila de Santo António de Arenilha.

Tal como podemos acompanhar nos vários estudos que temos vindo a publicar em várias revistas culturais/científicas/académicas, a vila de Arenilha foi fundada na foz do Guadiana, em 1513. Foi constituída como um couto de homiziados, sendo que no seu porto – onde eram contrabandeados escravos e mercadorias trazidas das praças portuguesas do Norte de África – era frequentemente atacado pelo corso e pela pirataria, principalmente a magrebina.

Altar - Arenilha

A partir de 1542, a alcaidaria-mor de Arenilha foi atribuída a António Leite, capitão das praças portuguesas de Mazagão, Azamor e do forte do Seinal, como compensação pela perda da capitania de Mazagão, onde se concentraram as forças portuguesas no sul de Marrocos depois da evacuação de Safim e Azamor.

De facto, foi durante a evacuação de Alcácer Ceguer, em 1550, que o capitão António Leite transferiu para os edifícios religiosos de Santo António de Arenilha (Igreja da Trindade e Ermida de Santo António) as pedras nobres da capela existente no forte do Seinal, nomeadamente, as pias baptismais e de água benta, uma coluna com as armas de António Leite e até a pedra do altar-mor.

Estas informações, avançadas por Hugo Cavaco, em 2010, e por nós desenvolvidas desde 2014, levantaram, no entanto, uma dúvida: o destino dado às pedras nobres de Arenilha quando a população da vila se dispersou pelo concelho, durante o séc. XVII que assistiu à Guerra da Restauração (1640-1668).

A resposta a este enigma com quatro séculos foi agora desvendada pelo historiador de arte Marco Sousa Santos, que identificou, na Ermida de Santo António, em Castro Marim, um pedestal com o brasão de armas do capitão António Leite, alcaide-mor de Arenilha, assim como o tampo de uma mesa de altar onde figura a inscrição:

“ESTE.(A)LTAR.E.IRMI/DA.MANDOV.FAZER.AMTO.LE.ESTÃNDO.POR.CAPITÃ.N/O.SE(INAL) (…)”.

Esta descoberta destaca-se, desde logo, pela sua grande importância histórico-cultural, não só por se tratar de um património arqueológico dos Algarves de Aquém e de Além-mar, trazido para a foz do Guadiana no contexto da reformulação da estratégia norte-africana de D. João III, como também por se tratar dos únicos materiais (até agora conhecidos) que sobreviveram ao desaparecimento da sede de concelho de Santo António de Arenilha, reconstruída a partir de 1774 e cujo nome, em 1775, veio a ser alterado para Vila Real de Santo António, segundo deliberação do marquês de Pombal. Mais uma prova, agora física, de que a nossa terra é muito mais antiga do que, deliberadamente, nos quiseram convencer com o pretexto rebuscado da arquitectura pombalina. Contra factos não há argumentos.

Fernando Pessanha
Historiador

Sobre o autor

Fernando Pessanha

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